fbpx

A Entrevista – Inês Folque

A Televisão
20 min leitura

Destaque2 In%25C3%25Aas%2520Folque A Entrevista - Inês Folque

Começou por ser olhada com desconfiança quando deu corpo à vilã Rita, de Morangos com Açúcar 7, mas a experiência na série da TVI e, agora na SIC K, deu-lhe a capacidade para enfrentar um futuro que ela mesma não sabe ainda muito bem onde a poderá levar. «Em Portugal há algum preconceito em perceber que uma apresentadora também pode ser atriz», desabafou. Inês Folque está de regresso à ficção, na novela Jardins Proibidos. Todos os dias, no horário nobre da TVI, dá vida a Mercedes, uma espanhola que volta a Portugal para recuperar o seu grande amor.

1 A Entrevista - Inês Folque

Ainda te associam ao papel da Rita, dos Morangos com Açúcar?

Muito pouco. Acho que fiz um bom trabalho em conjunto com a SIC K para me distanciar da Rita. Quando saí dos Morangos, queria que me reconhecessem pelo meu trabalho enquanto Inês Folque e não pela miúda que fez os Morangos. Há sempre a tendência de ficarmos conotados com a personagem e isso era uma coisa que eu não queria para futuros trabalhos, queria deixar a Rita Moreira voar.

Porquê essa preocupação em «matar» a Rita?

Uma das razões pelas quais eu queria muito afastar-me da personagem era porque logo que saí dos Morangos chamaram-me para apresentar o Factor K, na SIC K. Rapidamente, uma nova geração me via como a apresentadora da SIC K e não como a atriz dos Morangos. Hoje em dia já muito pouca gente me associa a esse papel, mas ainda há quem o faça.

Ela era odiada por todo o público infantil…

Ela fazia tudo mal e eu demorei algum tempo a compreendê-la, e para isso foi preciosa a ajuda dos meus diretores de atores do projeto. Os Morangos é uma lição de vida, uma escola fantástica, na qual sinto que tivemos uma evolução enorme em equipa. Foi enriquecedor poder encarnar um personagem tão distante de mim. A verdade é que não via nada de mim na Rita e isso também é um bom desafio. Talvez, na altura, tenha tido alguma dificuldade em perceber isso, mas olhando de fora, algum tempo depois, percebo que fui muito sortuda em dar vida à Rita.

Qual foi o grande desafio ao fazeres esta menina mimada?

Sem dúvida que o maior desafio foi fazer um personagem tão diferente de mim, com o qual não me identificava e o qual cheguei a julgar determinadas ações. Mas isso faz parte de ganhar maturidade. Foi o meu primeiro projeto mais a sério na área da ficção e estava um bocadinho assustada com o facto de ter de lidar com um público que me desprezava.

Como é que contornavas essa situação?

Lembro-me de sentir que tinha de ser ainda mais querida e simpática para o mundo em geral, porque as pessoas esperavam o contrário, e assim conseguia compensá-las.

Sentes que há uma grande dificuldade no público em separar a ficção da realidade?

Sim, principalmente o público infanto-juvenil. Eu senti isso na pele. Foi esse o grande motivo para, por momentos, ter entrado em conflito com o meu personagem, pois eu não queria que o público «me» odiasse. Assumo que isso possa ser contraditório porque se assim era, era sinal que estava a fazer muito bem o meu trabalho. Lembro-me que o público dos Morangos tinha medo de mim [risos]; não se aproximavam, nem mesmo quando estava com colegas da série. Acabava por ser eu a aproximar-me nessas circunstâncias e a conversar.

E quanto ao público da SIC K, como é trabalhar para os espetadores mais novos?

É único, a melhor coisa do mundo. E acreditem que dizer isto não é cliché. São genuínos, são verdadeiros, é espetacular. Estou há três anos e meio na SIC K e sinto que cresci com toda uma geração. Para os mais novos não há frases de circunstância, nem cerimónias, eles perguntam o que querem e dizem o que querem e ensinam-nos muito. Confesso que me dá mesmo muito prazer trabalhar para este público que me é muito querido.

O que deveriam os adultos aprender com as crianças?

Tanta coisa! As crianças são puras, espontâneas, humanas, reais, verdadeiras… Não sabem mentir, são genuínos, são sonhadores. Acho que os adultos deviam, sobretudo, parar para pensar o que os fazia felizes quando eram crianças e adotar isso para a sua vida… Ficar felizes com as pequenas coisas e desvalorizar aquilo que não temos, não alcançámos, provavelmente não aconteceu por algum motivo de força maior. Aquilo que mais falta aos adultos, na minha opinião, é a verdade dos pequeninos.

Qual é o balanço que fazes do programa?

É um balanço muito positivo. O Factor K renova-se a cada temporada, e por isso mesmo é que me dá tanto gozo fazer parte desta equipa. Temos uma equipa de produção fantástica e uma direção de canal também muito boa, mas tento fazer parte sempre que posso em todo o processo do programa, desde a apresentação até à produção complementar. Sendo um magazine cultural, há todo um mar de possibilidades. Não nos limitamos a divulgar exposições e peças de teatro para os mais novos, entramos na área da moda, da música, cinema. Tudo para nós pode ser motivo para uma boa reportagem.

Sempre envolvida em gravações, cursos de representação, filmagens, consegues algum tempo para ti?

Para mim, quanto mais ocupada estiver, melhor. Odeio a sensação de estar parada. Às vezes acabo estoirada, porque preciso muito de dormir, mas é bom sentir-me cansada, é sinal que tive um dia cheio. Adoro ter dias cheios e normalmente até acho que posso fazer mais coisas. Tenho imensas ideias em banho-maria que gostava de pôr em prática, e falta-me a coragem para enfrentar o tempo a mais e o tempo a menos para as realizar. Um dia terá de ser!

Concluíste um curso superior que tem pouco a ver com a carreira de atriz ou de apresentadora. Porque é que escolheste fazer Gestão de Empresas?

Foi o que mais seguro me pareceu fazer na altura. Nunca pensei se usaria mesmo o curso que ia tirar, até porque a ideia de tentar entrar no mundo da representação/apresentação já vinha desde muito pequena. Há muitas coisas ligadas à área de gestão que me interessam. Muitas delas também ligadas à área de televisão, desde gestão de conteúdos, programação internacional. Sou absolutamente viciada em séries, e o departamento dos canais onde se escolhe a programação, onde se fazem as compras e as vendas é uma área que sempre me fascinou. Por isso, acho que ter um curso de gestão é uma mais-valia para mim, até pela experiência de faculdade que me trouxe.

Gostavas de conseguir conciliar a apresentação com a representação? Uma área não invalida a outra.

Adorava, mesmo! As duas dão-me um prazer enorme e espero poder continuar a trabalhar e a evoluir nas duas. É difícil em Portugal, acho que há algum estigma e algum preconceito em perceber que uma apresentadora também pode ser atriz. A minha formação sempre foi como atriz, o que não invalida o meu trabalho enquanto apresentadora, ou vice-versa. O caminho a seguir é o que me quiserem dar. Trabalho, trabalho e mais trabalho. Enquanto me derem trabalho fico muito feliz.

3 A Entrevista - Inês Folque

Mas nem sempre há trabalho. Neste mundo da televisão é preciso um grande «jogo de cintura».

É, sem dúvida, preciso um grande «jogo de cintura». Tenho mesmo muita pena da forma como as pessoas ligadas ao mundo das artes (no geral) são tratadas. Faz-me confusão a forma como a nossa profissão é vista, algumas vezes sem respeito. Acho que Portugal já merecia um apoio diferente nesta área, uma área importantíssima no nosso país que é suposto viver de mão dada com a cultura, que é das coisas mais importantes para um país evoluir. Acho que os recibos verdes deviam ser substituídos por um sistema mais justo, mais digno, que nos desse os mesmos direitos que pessoas que trabalham noutras áreas com contrato.

O que fazes para não esmorecer, nas alturas mais complicadas?

Não esmorecer é muito complicado, e não posso deixar de dizer que há alturas que só nos apetece seguir por outro caminho. Mas o gozo e o prazer de fazer aquilo que mais gostamos faz-nos manter a esperança e ser pacientes, acreditar que no dia seguinte vai ser melhor. E claro, também ajuda ter uma família, um namorado e uns amigos espetaculares, que nos animam e puxam para cima quando vemos tudo escuro.

Integras agora o elenco da novela Jardins Proibidos. Como surgiu o convite?

Já tinha feito casting para a novela, nesse caso para o personagem da Filipa Maia, a Mónica, e não tinha sido escolhida. Mais tarde surge na história um novo personagem, a Mercedes, uma espanhola, ex-namorada de Alfonso. Chamaram-me para novo casting e acabei por ficar. A reação foi obviamente de alegria, foi ótimo poder voltar à ficção e mais ainda num personagem como a Mercedes, com as raízes que tem e com a história que lhe envolve.

Como é que te preparaste para dar vida a uma personagem espanhola?

Preparar-me para a Mercedes, numa primeira instância foi relativamente fácil. Fui buscar muito das minhas raízes e tradições espanholas, ver a forma como as minhas amigas espanholas se comportavam, assim como observar a minha mãe (a forma como ela gesticula e fala). O resto passou muito por observação das pessoas à minha volta. As espanholas têm fama de se arranjarem mais que as portuguesas e eu concordo muito com isso. Depois, há o lado de ela ser apenas uma miúda apaixonada por um amor de infância, como uma adolescente de qualquer parte do mundo.

A tua mãe é de Barcelona e o teu pai português. Tens influências da cultura espanhola?

Sem dúvida, tantas! Não costumam dizer que é a mulher que manda lá em casa? Como poderia não ter influências da cultura espanhola? Tenho-as em muita coisa, na forma de me vestir, na preocupação comigo, os cuidados com o meu corpo, pele (influências da minha mãe), na forma de falar (falamos todos muito alto lá em casa) [risos]. Em dias especiais, como comemorações e dias de anos, as tapas… tortilha de batata, a forma como falamos todos em cima uns dos outros e como mudamos de assunto, consegue ser mesmo muito rápido. Acho que temos a alegria do flamenco espanhol. Vive-se muito Espanha!

Estou a ver que dominas completamente a língua espanhola.

A língua espanhola para mim é como falar português, não tenho qualquer problema. Tem-me dado muito prazer esse lado da Mercedes. Apesar de ela em Portugal falar o famoso «portunhol», é muito giro porque penso sempre na minha mãe quando estou a interpretar a personagem.

O que é que as pessoas dizem acerca do teu «portunhol»?

Tenho tido boas críticas, e de algumas de pessoas que não esperava, assim como das minhas amigas que dizem que pareço a minha mãe a falar. E isso para mim é um enorme elogio, pois é muito difícil afastar-me do português e do espanhol – que são duas línguas que domino –, para falar o «portunhol» da Mercedes. Mas uma vez encontrado o caminho e com alguma concentração, de repente dou por mim a falar de forma natural. O mais difícil foi mesmo encontrar aquele ponto de equilíbrio de uma espanhola a tentar falar português, mas agora acho que já cheguei lá.

Achas que estás a desempenhar bem o teu papel?

Eu estou a dar o meu melhor, como aliás dou em qualquer trabalho que faço. Tento ser o mais profissional possível e o mais fiel possível ao que o autor imaginou para a personagem, mas não me cabe a mim julgar o meu desempenho. Se o público gostar da Mercedes, mesmo que seja não gostando dela (por razões óbvias, não há como competir com o casalinho protagonista!) já me dou por satisfeita.

Quem é a realmente a Mercedes?

A Mercedes é uma adolescente normal, apaixonada pelo seu primeiro grande amor, que vem para Portugal tentar recuperar uma história perdida. É emocional, tem um bom coração, é calma e corajosa, calculista e de certa forma mimada. Sem dúvida que é muito decidida e leal. O impacto que ela terá na história depende dos autores, mas para já ela aparece na história para tentar recuperar o seu grande amor (Alfonso) afastando-o da Mónica.

Também eras capaz de travar uma luta e superar obstáculos para recuperares um grande amor?

Acho que um grande amor é capaz de mexer connosco de formas quase irracionais. Não faria as coisas como ela as faz, mas claramente seria capaz de abrir mão de aspetos materiais da minha vida e afastar-me de pessoas que eram contra uma relação que para mim fizesse sentido, se de isso dependesse a minha relação. Não acredito na máxima «vencer a todo o custo», nem em passar por cima de tudo e de todos para conseguir o que queremos. Pelo contrário, acredito que se uma coisa está destinada a ser nossa, o universo há-de encarregar-se de no-la fazer chegar.

O que é que te fascina na Mercedes?

É a capacidade de ela não ser óbvia. À partida o público conota-a como a má da fita, pondo-a no grupo dos vilões, mas depois quando a vão conhecendo, e se forem capazes de se separar um bocadinho das «pequenas» maldades dela, vão encontrar uma miúda frágil e insegura, com um amor infinito, que usa uma máscara de segurança para que o mundo não descubra esse seu lado inseguro. No fundo ela é frágil nas suas inseguranças, sendo que para o mundo ela aprendeu a ser forte, por tudo o que lhe foi acontecendo na vida. Esta é a forma como eu vejo e sinto as coisas e foi por isso que gostei tanto dela desde o princípio, porque vi uma possibilidade de a tornar humana, conseguindo mais ou menos, porque nem sempre temos essa margem de manobra.

E o que é que te tem dado mais prazer neste desafio?

Voltar à ficção, já tinha muitas saudades. Encarnar a Mercedes, um personagem de outra cultura, com outros hábitos, que me obriga a uma maior preocupação e cuidado, com a forma de estar e de falar, e que exige mais rigor na construção de personagem. Tem sido espetacular conhecê-la a cada dia que passa e descobrir pormenores da sua personalidade.

Quais são as tuas metas para 2015?

Adorava que 2015 fosse tão bom ou melhor que 2014 em termos de trabalho. Gostava de continuar a trabalhar na ficção e na apresentação, gostava de realizar alguns projetos pessoais e tirá-los da carteira, tornando-os também parte da minha vida profissional. Quero muito poder continuar a trabalhar no que gosto e adorava experimentar teatro e cinema. Não há coisa que mais gozo me dê do que estar em cima de um palco, e quem sabe 2015 não será o ano certo para isso!

Em 2016 chega mais uma edição do Rock in Rio. É um desafio promover aquele que é considerado o maior espetáculo de música do mundo?

É verdade, 2016 é ano de Rock in Rio novamente, um projeto que me é muito querido. Antes de Portugal, o Rock in Rio ainda vai passar por Las Vegas, em estreia absoluta, com um cartaz de cortar a respiração e Rio de Janeiro mais uma vez, naquela que é uma das minhas cidades preferidas do mundo. Mais do que um desafio, é uma responsabilidade, pois é o maior evento de música, que atinge e une milhares de pessoas, e para mim é um verdadeiro orgulho dizer que faço parte da equipa que o faz acontecer.

6 A Entrevista - Inês Folque

Siga-me:
Redactor.