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A Entrevista – Gustavo Santos

David Soldado
22 min leitura

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37 anos. Ator, apresentador, escritor e modelo. Estreou-se em televisão como ator nos Morangos com Açúcar mas é na apresentação que Gustavo Santos se revê mais. A conduzir o Querido, Mudei a Casa desde 2010, estreando hoje a nova temporada, agora na TVI Ficção, o apresentador esteve à conversa com o site A Televisão. Numa entrevista onde a formalidade foi posta de parte, Gustavo Santos fez uma retrospectiva da sua carreira que já conta com mais de 12 anos. O sucesso do Querido, Mudei a Casa junto do público, a mudança de canal, a estratégia da TVI em voltar às adaptações de novelas, a sua experiência como concorrente do Big Brother 2 Famosos, as suas lutas diárias e os seus objectivos de vida, são alguns dos temas abordados. 

1 A Entrevista - Gustavo Santos

Querido, Mudei a Casa está agora na TVI. Como vês esta mudança?

Eu encaro sempre as mudanças como uma coisa boa. Quando nós mudamos normalmente deixamos a zona de conforto daquilo que estamos habituados que é a rotina e viramos para um mundo novo que não conhecemos, em que não dominamos, em que não controlamos e é exactamente aí que uma pessoa volta a sentir alguma uma coisa. A mudança só é má se houver dependência. Imagina que o Querido, Mudei a Casa dependia da SIC, então essa era uma mudança que poderia ser má. O Querido é um programa independente, é pago por patrocinadores. Nunca foi pago pela SIC. Como não há dependência, vamos para a TVI onde há gente nova, uma mentalidade nova e desafios novos.

Era um regresso desejado estares de volta a Queluz de Baixo?

Eu tinha muita vontade em voltar à TVI por várias questões. A TVI foi a primeira estação a dar-me a oportunidade de me tornar profissional de televisão, então eu acho que é empolgante voltar à casa que me deu a primeira oportunidade e isso sabe bem. Depois tenho lá gente que é amiga de longa data. Ainda há poucos dias fui à TVI casa, digamos assim, e vi-os lá e esse encontro foi muito gratificante. Para mim é uma mudança extraordinária , muito boa.

Há quem diga que esta transferência do programa foi uma perda para a SIC Mulher, por este ser a imagem de marca do canal. Partilhas essa opinião?

O Querido, Mudei a Casa é um produto de sucesso senão não estava há dez anos a ser emitido. Começou na SIC Mulher, teve uma década lá, mas é como os relacionamentos. Há aqueles que duram um ano, cinco anos, dez anos e depois acabam. As coisas começam e acabam, não há nada que seja eterno a não ser nós mesmos até irmos embora. De resto as relações todas que temos são efémeras: as relações profissionais, humanas, de amizade e amorosas. Não há nada que perdure, portanto o ciclo na SIC Mulher fechou e agora é um novo ciclo na TVI.

2 A Entrevista - Gustavo Santos

O programa está no ar há dez anos. Como explicas este sucesso?

A Briskman que é a produtora sempre conseguiu arranjar patrocinadores que pagassem o programa porque se dependêssemos do canal emissor, o Querido não existia há dez anos, portanto é um grande mérito da produtora. Depois isto é um programa fácil de se gostar porque isto é um programa altruísta, que promove a mudança não só da casa como a vida das pessoas. As pessoas gostam de ver essas surpresas, gostam de ver aquilo que as sensibilizam, que as toca e o Querido nisso é um produto muito forte.

Achas que o programa, além de mudar a casa em si, muda também a vida das pessoas?

Eu penso que sim porque tu estás habituado a viver na tua casa e de repente, em 48 horas, entram para lá uns malucos e mudam uma divisão. Só o facto de teres uma divisão com uma nova energia dentro da tua casa, faz com que tu ali consigas sentir coisas que não sentias há imenso tempo. E essa reciclagem de energia fará com que quando tu sais de casa, vais carregado com outra vibração. Este programa tem uma componente humana fortíssima. Aliás, eu acho que a componente humana começa na equipa que faz o programa. Aquilo são irmãos, o companheirismo, a cumplicidade, é tão grande que eu sinto que isso passa depois quando o programa é emitido, ou seja, não há ninguém que aponte e que possa dizer “aqueles não se dão bem”. Nós conseguimos criar um núcleo tão sólido e unido que isso transparece. Além disso depois tocamos as pessoas, isto é, potenciamos a vida das pessoas.

O Querido, Mudei a Casa marca-te em que sentido?

 O Querido marca-me de uma forma diferente. Apesar de ter criado uma personagem, metade do que se vê é o Gustavo que é o meu lado mais humano. Aquele lado mais preguiçoso, pouco proactivo e que anda sempre a mandar bitaites é um personagem que eu criei para dar uma maior dinâmica ao programa, quebrar um bocadinho com a formalidade que lá existia anteriormente. Portanto o Querido é um programa que me marca.

3 A Entrevista - Gustavo Santos

Para ti, o melhor de fazer este programa é…

É a equipa e depois a reacção, claro. A reacção porque é a parte final, é ver, é tentar sentir aquilo que as pessoas vão sentir quando tiram as vendas. Esse momento de tirar as vendas tem um grande impacto. Apesar de nós sermos um país com muita dificuldade em vulnerabilizar, somos um país forte para a malta se queixar, aí somos muita bons, mas para a malta vulnerabilizar, somos um país pequeninho. As pessoas tem muita dificuldade, muito preconceito em mostrarem aos outros que são sensíveis e que precisavam tanto daquela mudança. Já houve surpresas em que as pessoas escolheram sentir e quando as pessoas sentem, nós também sentimos com elas. Elas choram, nós choramos e isso é muito bonito.

Para quem não está dentro do processo, como é que se chega à candidatura final, isto é, quais são os critérios usados para a escolha da casa?

Recebe-se quase mil candidaturas por semana. Isto há dez anos, portanto ainda há casas para fazer (risos). A nível de critérios, há dois requisitos que são base. Primeiro, o potencial do espaço. Essencialmente, isto é um programa de decoração, não um programa de solidariedade. Claro que se podermos juntar as duas coisas, juntamos. O que tem de prevalecer é se televisivamente, é um bom produto final. O segundo requisito é a história: porque é que a pessoa quer se candidatar, o que aconteceu naquele espaço, o que é que aconteceu recentemente na vida, o que é que conquistou recentemente, o que é que perdeu recentemente, por aí fora.

4 A Entrevista - Gustavo Santos

Consideras que o facto da TVI Ficção ser um exclusivo Meo possa ser um entrave ao sucesso do programa?

Inicialmente, é um entrave. Imagina que em vez de o programa puder chegar a toda a gente, só pode chegar a metade. Mas não é um problema porque depois as pessoas vão puder ver na TVI generalista.

 Há quem se interrogue da presença do formato num canal dedicado à ficção nacional. Faz sentido esta aposta na TVI Ficção?

Faz sentido porque isto é uma estratégia da TVI que eu considero inteligente porque inicialmente vai levantar as audiências da TVI Ficção. É essa a ideia e depois também vai passar em repetições num formato ligeiramente curto na TVI generalista aos domingos de manhã. Apesar de ter menos audiência para já na TVI Ficção daquela que tinha na SIC Mulher, o facto de adicionarmos a passagem para a TVI generalista, o programa vai «explodir», vai ter uma visibilidade muito maior. A estratégia da TVI é alavancar um canal que neste momento tem pouca audiência, depois é uma belíssima estratégia da Briskman, tendo a oportunidade de passar para um canal generalista, as audiências vão muito lá para cima.

A nova temporada estreia hoje, dia 1 de junho. Estão prometidas surpresas ou a forma de produzir o formato continuará a ser a mesma?

O formato vai ser exactamente igual. Agora, vêm sempre surpresas porque a malta reiventa-se sempre. Isto é um formato de sucesso, não faria sentido alterar. Vamos manter, vamos é chegar a mais pessoas. Muitas pessoas já ouviram falar do Querido mas que nunca viram, agora vão ter essa oportunidade.

5 A Entrevista - Gustavo Santos

E como vês o facto da TVI generalista apostar também no Querido? O programa já merecia ter essa visibilidade?

A Briskman já queria esta oportunidade há bastante tempo. Dez anos depois de estar no ar que nunca custou um cêntimo ao canal emissor, já merecia, de facto, esta oportunidade. E penso que será uma grande mais valia para a produtora, para todos aqueles que fazem o programa e para as marcas que patrocinam o programa. A responsabilidade de estar na TVI aumenta, mas o prazer também.

A imprensa avançou que iria ter uma parceira…

Eu vou apresentar sozinho. Eu tenho a plena convicção que o programa fica muito bem comigo e eu fico muito bem com o programa. Temos uma empatia muito forte, não só pelo conteúdo que existe no programa, mas também entre as pessoas que trabalham lá e havendo essa disponibilidade minha, essa vontade inflexível da produtra, só faz sentido ser assim.

Tu apresentas o Querido há quatro anos. O Gustavo, como apresentador, de 2010 é ainda o mesmo que o Gustavo de hoje?

Ainda sou o mesmo, embora seja um homem melhor em varridíssimos aspectos. Já tenho mais experiência, já vivi mais coisas, sou um homem completo, mas uma coisa importante de frisar, eu nunca sou, nem nunca irei considerar aquilo que faço. Eu não sou apresentar de televisão, é apenas uma coisa que faço, que me dá gozo em fazer. O que eu sou mesmo é um homem feliz.

Como foi trabalhar com a Sofia Carvalho? Foi uma parceria bem-sucedida, na tua opinião?

 Foi a Sofia que arrancou com o Querido, Mudei a Casa. Só se abriu um casting para encontrar um apresentador porque a Sofia estava com muito pouco tempo para fazer os programas. Houve ali uma necessidade de meter ali alguém, então abriu-se um casting e eu fiquei. Neste momento não há essa necessidade porque eu posso fazer todos. Lembro-me perfeitamente do primeiro que fiz, a Sofia estava lá, ela estava a fazer as cenas e eu estar de fora a olhar para ela e a tentar perceber e aprender como ela fazia aquilo há seis anos. Foi uma professora para mim. A ideia era que ela seguisse com a linha dela e eu com minha para dar mais sumo ao programa. Um lado mais formal, outro um bocadinho informal. Este meu lado informal teve, de facto, um impacto muito grande junto do público, porque as pessoas divertem-se à brava com aquilo.

10 A Entrevista - Gustavo Santos

Inicias a tua carreira em televisão como ator. A tua estreia foi Morangos com Açúcar e o teu último projecto na ficção foi em 2010 com uma curta participação em Espírito Indomável. A tua ausência deve-se à falta de convites ou optaste por seguir outro caminho?

Eu segui outro caminho e a explicação é muito simples. Durante a minha carreira de ator, estive duas vezes desempregado durante mais de um ano, sem trabalho. E quando se está desempregado durante um ano, não se recebe um cêntimo e houve uma altura em que me questionei se isto era aquilo que queria para a minha vida. A resposta foi não, então se não era vamos fechar isto e abrir outras coisas. É isso que eu faço, só uma pessoa confiante, uma pessoa que sinta feliz e respeite muito aquilo que gosta é que tem o poder de fazer isto. E eu fechei esse ciclo, mas se surgisse um convite agora da Plural e da TVI para fazer uma pequena coisa como foi em Espírito Indomável que foi só um episódio mas que deu um grande gozo, claro que fazia com muito gosto. Mas onde eu quero prevalecer tem a ver com esta questão da apresentação.

Consideras um retrocesso na ficção nacional o facto da TVI voltar às adaptações de novelas?

Se estamos a fazer alguma coisa de novo, eu não consigo ver isso como um retrocesso. As modas vão e vêm. Há muita coisa que esteve na moda há décadas atrás e agora está na moda outra vez. Eu não vejo isso como um retrocesso mas sim como uma aposta e nós na vida temos que apostar. Não há hipóteses porque se ficares a fazer mais do mesmo, vais entrar outra vez na zona de conforto. Se a TVI está a fazer isto temos que dar crédito, depois logo se vê se funciona ou não.

7 A Entrevista - Gustavo Santos

Entraste também na 2ª edição famosos de Big Brother. Que recordações trazes desses tempos?

Aquilo era uma coisa que eu sempre quis experimentar. Entrei no grupo, ainda me lembro quase de todas as pessoas que lá estiveram. É uma experiência bastante intensa, temos de conseguir encontrar formas para passar bem ali dentro. Aquilo é uma coisa que mexe com muitas estruturas tuas, mexe muito com a tua confiança, com o teu ego que é uma coisa muito perigosíssima. Sais de lá e de vez em quando achas que és o maior. Não vales nada, mas és o maior. Eu passei por essa fase algum tempo porque na rua toda a gente me conhecia, era entrevistas para todo o lado.

Como vês os atuais reality shows e concorrentes?

Eu não vejo muito, mas eu sinto que são oportunidades que lhes são dadas e as pessoas querem aproveitar, umas para uma coisa, outras para outra. Para mim é tudo válido desde que depois as pessoas saibam respeitar-se, saibam perceber que aquilo não passa de um momento, aquilo é uma coisa altamente efémera e fugaz, e que as pessoas depois saibam agarrar o que é real. Agora há gente que faz carreira de reality shows, eu respeito isso. Se me identifico com isso, não!

8 A Entrevista - Gustavo Santos

No futuro, vês-te a apresentar uma Casa dos Segredos ou até mesmo um Big Brother?

Eu quero fazer coisas que tocam as pessoas, que possam inspirar pessoas. Os reality shows não passam de entretenimento. Se algum dia um convite nascesse para apresentar um reality show, eu não recusava imediatamente, falaria sempre com a direcção e perguntaria se poderia conduzir aquilo para um lado mais Gustavo. Se isso pudesse ser feito, tranquilo.

E um outro programa, gostavas de um dia chegar à televisão generalista como apresentador?

Eu gosto muito de ser apresentador porque é um lado que permite ser eu, coisa que num ator não é possível. Enquanto apresentador, tu podes ser quase 100% tu, e eu  gosto de ser quase ou até mesmo 100% eu. Eu não dependo da televisão, consegui construir esse mundo paralelo sozinho, portanto tenho outras carreiras. Eu sinto que a força que eu tenho aqui dentro, a confiança que mora aqui dentro, pode ser um canal de inspiração para muitas pessoas. Já o é através dos meus livros ou das minhas conferências que dou para multinacionais ou para público aberto, agora a televisão é a televisão. Não há menhum meio mais rápido e que chegue a mais pessoas do que a televisão portanto se me fazes a pergunta “se eu gostaria de apresentar um programa num canal generalista”, sim! Agora, ser um formato que se vê atualmente de manhã ou à tarde, não! Eu tenho na TVI duas pessoas que estimo muito que é o Goucha e a Fátima Lopes que são brilhantes  naquilo que fazem, mas eu não me vejo a fazer aquilo. Não é bem aquilo, mas vejo-me num programa onde se possa falar sobre valores, de pessoas, sobre paixões, sonhos, objectivos, sobre medos, bloqueios, preconceitos, aí sim vejo-me. Pode ser que um dia isso venha a acontecer.

9 A Entrevista - Gustavo Santos

Achas que hoje em dia as televisões dão muita importância à imagem?

Claro! Aquilo é o que chega a mais pessoas, eles tem que escolher pessoas que são referência em várias áreas e a beleza é claramente uma dessas áreas. Embora se tu vires, não vês apresentadores bonitos. Apresentadoras existem, mas homens há poucos, portanto a mulher vende muito mais que o homem, gera muito mais dinheiro em relação a coisas comerciais. A beleza é um dos factores que a televisão tem de ir buscar como referência. A beleza também gera audiências e isso é o que lhes interessa.

Uma última pergunta: Sentes-te um homem realizado a nível profissional?

Completamente porque eu tenho quatro profissões. Todas, menos o Querido, foram criadas por mim. Os livros são criados por mim, as conferências também. Só o Querido é que foi um casting. Eu tenho um mérito muito grande em relação a isso, porque nunca encostei-me, nunca fiquei à espera que me resolvessem os problemas e fui sempre à luta, mas fui sempre à luta porque sempre soube aquilo que me apaixonava, sempre procurei aquilo que me apaixonava e sempre procurei respeitar aquilo que me apaixonava. E é isso que faço, ou seja, tudo aquilo que faço é aquilo que quero fazer.

Redactor.