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A Entrevista – 10 Anos «Inspector Max»: Sara Butler

David Soldado
14 min leitura

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Na passada quinta-feira estivemos à conversa com Sandra Celas a propósito dos 10 anos da estreia de Inspector Max na TVI que continua a conquistar a preferência dos portugueses, agora nas manhãs de sábado. O site A Televisão não quis ficar por aqui e esteve reunido também com Sara Butler que mesmo afastada do pequeno ecrã continua a ser abordada pelo seu papel de Catarina, a filha do inspector Jorge.

Hoje licenciada em Ciências da Comunicação e com projetos para o futuro, Sara Butler falou-nos um pouco de tudo: o ambiente que se fez sentir nas gravações, o reconhecimento dos portugueses, o privilégio de trabalhar com Fernando Mendes e Ruy de Carvalho, o sucesso intemporal da série, entre outros assuntos.

Inspector Max fez 10 anos no passado dia 14 de março. Lembra-se como foi o primeiro dia de gravações?

Lembro-me perfeitamente. Na altura, como não tinha a menor ideia de como interpretar um plano diário de exteriores, disseram-me que as gravações iriam ter lugar em Palmela. Apanhei o transporte da produção até ao décor e, como seria de esperar, senti logo um “friozinho na barriga”, pois não estava habituada a trabalhar com um elenco fixo e, especialmente, com um pastor alemão como actor principal. Apesar dos nervos sentidos nesse dia (o que considero perfeitamente natural) é algo que irei guardar para sempre na memória.

Já passaram dez anos. A Sara deixou o anonimato para ser conhecida como a Catarina. De que maneira lidou com a fama na altura?

Apesar de já ter trabalhado em televisão antes do Inspector Max, lidei com esse reconhecimento de uma forma perfeitamente natural. A minha família sempre me incutiu uma educação baseada na humildade e na simplicidade. Aprendi a ver o mundo de uma forma realista, simples, bela, sem grandes adereços. Tinha perfeita noção de que acabara de mergulhar num mundo, de certo modo perigoso, mas que me deixava feliz porque ao fim e ao cabo estava a trabalhar numa área de que gostava bastante, neste caso o audiovisual. Integrei o elenco de uma produção, trabalhei durante dois anos em algo que me dava prazer e esse trabalho foi apreciado pela audiência. Não podemos condenar ou apontar o dedo a quem gosta de nós e apoia o nosso trabalho. Porque haveríamos de o fazer? Aqui o importante é colocarmos uma barreira invisível que seja capaz de separar aquilo que é público do que é privado de forma a evitar chatices desnecessárias.

1 A Entrevista - 10 Anos «Inspector Max»: Sara Butler

Ainda hoje é reconhecida pelo seu papel?

Nos últimos anos o reconhecimento desta personagem tem vindo a decair. A personagem até pode «congelar» nos ecrãs durante muitos anos mas o ser humano que se encontra por detrás dela vai crescendo, evoluindo, seguindo outros caminhos. Noto um reconhecimento maior por parte dos mais jovens, o que é compreensível por se tratar de um produto infanto-juvenil transmitido durante o período da manhã, ao fim de semana, num canal generalista. Ainda tenho as famosas situações dos autógrafos e dos beijinhos às crianças que me deixam de coração quentinho em dias de temporal. E isso é o mais importante de todo este negócio.

Apesar de ter feito participações em outras produções, Inspector Max foi a produção onde viu maior reconhecimento por parte dos portugueses. Como foi trabalhar com nomes como Fernando Luís e Ruy de Carvalho?

Foi uma experiência para guardar na gaveta das boas memórias e, principalmente, na gaveta da aprendizagem. Conhecia o Fernando Luís apenas do pequeno ecrã, pois era uma apreciadora e espectadora assídua do Médico de Família (SIC, 1997), sem dúvida uma das melhores produções da televisão portuguesa. O senhor Ruy de Carvalho sempre foi e sempre será uma inspiração para todos os portugueses, certamente. Considero que trabalhar com estes dois actores durante tanto tempo foi algo extremamente enriquecedor para mim, enquanto profissional e enquanto pessoa. O senhor Ruy de Carvalho acabou por ser o meu avô emprestado durante dois anos, algo que estava a precisar na altura.

Atualmente mantêm contactos com algum desses ou outros atores?

Sim. Não me encontro a trabalhar em televisão neste momento, daí ser mais difícil o contacto regular com alguns dos actores que fizeram parte desta produção. Contudo, ainda mantenho contacto regular com alguns e fico muito feliz que ainda se mantenham presentes nesta etapa da minha vida.

Em 2010, reencontrou Fernando Luís e Ruy de Carvalho ao ingressar o elenco da novela Sedução do mesmo canal. Como foi voltar a trabalhar com os atores?

Foi muito bom porque as nossas personagens interagiam bastante, mas também foi estranho porque já tinham passado muitos anos desde a última produção juntos. Encarnar uma personagem totalmente oposta à famosa “Catarina” e em cena com o meu “pai” e “avô” como padrasto e vizinho do lado, respectivamente, foi um desafio engraçado uma vez que estava totalmente fora da minha zona de conforto (risos).

2 A Entrevista - 10 Anos «Inspector Max»: Sara Butler

Dez anos depois, Inspector Max continua a fazer sucesso nas manhãs de sábado da TVI. Mesmo episódios repetidos, a série chega a bater os 30% de share. Como explica este sucesso intemporal?

Presumo que este sucesso se deve, essencialmente, à natureza do produto, uma série familiar, direccionada para um público jovem. As crianças de ontem são os pré-adolescentes de hoje que continuam a assistir, muitas vezes com os irmãos mais novos, aos episódios da série. Daí ser interessante observar que a série vai passando de geração em geração, de irmão mais velho para o irmão mais novo e assim sucessivamente. Se o share se mantém elevado depois de tantos anos é, certamente, porque este formato resultou, caso contrário a própria estação já teria desistido da inclusão da série na grelha de programação.

Face ao sucesso inicial, a TVI apostou numa segunda temporada. Acredita que um dia iremos ver uma terceira?

Tendo em consideração o contexto económico-financeiro em que o nosso País se encontra neste momento e as dificuldades sentidas por parte das produtoras essa ideia seria ligeiramente utópica… (risos). Para além das barreiras que iriam, eventualmente, surgir aquando do arranque de uma nova temporada da série, já se passaram dez anos desde o surgimento do produto. A equipa de guionistas teria de adaptar o formato de há dez anos ao formato de 2014. Logisticamente falando, tal obrigaria a uma mudança de décores, teria de haver uma adaptação das personagens do núcleo principal aos actores de agora, um novo cão… Tudo somado resultaria numa grande complicação difícil de gerir. Não estou certa, igualmente, quanto à receptividade deste novo produto, uma vez que tudo o que é demais enjoa, logo não acredito que uma nova temporada obtivesse o impacto de há dez anos atrás.

A TVI manteve a sua aposta principal na ficção nacional. Porém as audiências das suas novelas já não são as mesmas de há dez anos atrás. Acha que os portugueses fartaram-se destas?

Não acredito que os portugueses se tenham fartado da ficção nacional. O que se verifica actualmente é uma oferta muito extensa por parte dos canais generalistas, não falando apenas da TVI. O público agora dispõe de um vasto leque de opções, quer ao nível de telenovelas, quer ao nível de outro tipo de programas de entretenimento. Com o nascimento da NBP – Nicolau Breyner Produções, em inícios da década de 90, os espectadores assistiram ao aparecimento gradual do fenómeno “telenovela”(portuguesa) num país sem essa tradição, que resultou num sistema de produção de conteúdos ficcionais muito particulares que se mantém até aos dias de hoje. A sucessiva aposta em conteúdos televisivos desta natureza conquistou o coração dos portugueses, estabelecendo-se entre o canal e a audiência uma espécie de aliança. Contudo, devido às transformações que vão ocorrendo à nossa volta, o mercado televisivo tem de se adaptar ao longo dos anos. Penso que este afastamento se deva à sobrecarga da ficção nacional num período em que novos media começam a alterar as formas de produção de conteúdos ficcionais.

A televisão de há dez anos atrás é diferente da televisão de hoje. A forma de fazer televisão mudou. Como avalia o atual panorama televisivo?

Não posso responder a esta pergunta como espectadora porque vejo muito pouca televisão portuguesa para opinar sobre o atual panorama televisivo ou sobre a crescente aposta em reality shows (risos). Há uma distinção que deve ser feita que consiste na separação do que é um canal público dos canais privados, uma vez que a televisão não se organiza toda da mesma forma (apesar de, ultimamente, essa diferença se apresentar um pouco esbatida). A televisão do século XXI acaba por ser muito diferente do que era no passado. Há mais escolha nas mãos do consumidor e existe, de igual forma, um maior número de canais disponíveis para este. Com o aparecimento e rápido crescimento dos novos media e das plataformas multimédia que nos oferecem uma enorme variedade de conteúdos, o tradicional espectador de televisão passou também a ser um utilizador activo da Internet. Isto é, através do computador ou de um smartphone (com recurso a aplicações oficiais de determinados programas, como é o caso do “Secret Story“, “RTP 5i”, entre outras) tem a possibilidade de interagir ao deixar um comentário, visualizar conteúdo multimédia (como galerias de fotos ou de vídeos) e estar a par ao minuto das novidades que lhe interessam.

É importante considerarmos que o espectador de 2014 não é o mesmo de 2004, pelo que os conteúdos em directo já não são visionados com tanta frequência e, por vezes, as receitas publicitárias dos canais nem sempre são as esperadas. Por fim, tenho em mente que o panorama televisivo se revela bastante heterogéneo, para todos os gostos, com pontos muito fortes mas também com pontos muito fracos e que se complementa de uma forma saudável com Internet que, no fundo, é uma mais-valia para a televisão.

Já que estamos a falar do presente, deixe-me perguntar quem é a Sara de hoje?

Neste momento sou mais uma jovem licenciada igual a outros jovens licenciados na minha área, não estando acima ou abaixo de qualquer um deles. Considero-me uma privilegiada por ter um tecto, uma licenciatura na área que pretendia, alimentação e uma família que me apoia quando mais preciso, porque neste aspecto verificam-se desigualdades acentuadas que passam despercebidas aos olhos, supostamente, mais atentos.

E já pensa no futuro?

Futuramente (e falando numa perspectiva mais optimista) desejo despejar, adequadamente, a minha criatividade musical e fotográfica em projectos variados, com pouco ou nulo financiamento, mas que me ponham um sorriso no rosto. Não pretendo desperdiçar oportunidades valiosas, únicas, que me façam crescer como profissional e, sobretudo, como pessoa. Só temos uma vida. E nós é que escolhemos os atores, os cenários e, principalmente, a forma como a narrativa é construída.

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Foto: Fotógrafo Carlos Torres.

Redactor.