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A Entrevista – Pedro Carvalho

A Televisão
13 min leitura

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Nunca sonhou trabalhar no Brasil, mas o destino levou-o até terras de Vera Cruz. Aos 30 anos, Pedro Carvalho, que se estreou na série da TVI Morangos com Açúcar, em 2007, vive a sua primeira experiência profissional fora de portas. O ator foi o escolhido pela TV Record para protagonizar a prequela de Escrava Isaura, Escrava Mãe, que estreia em outubro deste ano. Para o papel na novela, Miguel Sales, teve aulas de equitação, esgrima e história. «Este é, sem dúvida, o projeto mais incrível e desafiante que fiz até hoje. Penso que é uma grande oportunidade para mim, para dar o meu melhor e provar que estou à altura», afirma.

Como é que surgiu a oportunidade para integrares o elenco de Escrava Mãe?

A Mariana Nogueira, uma agente de atores bem conhecida no Brasil, que agencia atrizes como a Paola Oliveira, já me tinha dito várias vezes que eu deveria tentar uma carreira no Brasil. Estava escalado para gravar mais uma novela em Portugal, até que a Mariana me ligou e falou de Escrava Mãe. Disse-me que a Record estava a fazer uma intensa pesquisa de há já vários meses, de vários atores portugueses, entre os 23 e 35 anos, para ser o protagonista da próxima novela de horário prime time da estação e que estariam muito inclinados a me escolherem, porque gostavam muito do meu trabalho.

Mas não te deixaste iludir.

Nem valorizei, porque pensei que estariam tanto interessados em mim como em outros 10 ou 20. Uma semana depois, ligou-me a contar que me queriam mesmo e que, se eu aceitasse, seria apresentado à imprensa na semana seguinte, no Rio de Janeiro, numa comitiva de imprensa, juntamente com a apresentadora Xuxa, como as duas contratações de 2015. Falei com a minha agente de Portugal, com a TVI e com a Plural, para a qual estava já escalado para fazer a próxima novela Santa Bárbara, falei com os meus pais e vim, sem hesitar.

Apesar da tua carreira, este desafio significa quase começar do zero. Assusta-te?

Quem me conhece sabe que sempre gostei de desafios, e este é um grande desafio, o maior que vivenciei até hoje. Não estou assustado, estou antes agradecido e expectante, ciente da enorme responsabilidade que tenho pela frente e muito feliz e entusiasmado com este projeto envolto nesta mega produção, com atores que sempre foram referência para mim nas novelas brasileiras e com uma direção e equipa técnica incrível.

Saíste da tua zona de conforto…

Nem poderia ter sido de outra maneira. É um grande desafio sair da zona de conforto. Traz amadurecimento e crescimento pessoal e profissional.

A gravar desde fevereiro, como estão a correr as gravações?

As gravações são muito intensas, eu gravo de segunda a sábado. Desde fevereiro tenho aulas de fonoaudiologia que servem para atenuar um pouco o sotaque português. Mas o balanço não podia ser mais positivo.

Foste bem recebido pelos teus colegas?

Não poderia ter sido recebido de forma mais carinhosa. Rapidamente me fizeram sentir em casa. São neste momento a minha segunda família. Tenho conhecido pessoas incríveis, alguns amigos que vou levar comigo para o resto da vida, sem dúvida.

A novela estreia em outubro. Gravar com uma grande distância de emissão é ou não uma desvantagem?

Estamos a gravar com uma grande distância de emissão, é um facto, mas já percebi que aqui funcionam assim. Seja nesta ou noutras emissoras, preparam os projetos com grande antecedência para se poder ter mais tempo e calma. Eu já assisti a algumas cenas minhas, senti essa necessidade, principalmente por causa da forma como falo, que é português de Portugal mas com algumas palavras e conjugações verbais em português do Brasil, porque em Portugal estamos habituados desde há muito tempo com o sotaque brasileiro pelas novelas brasileiras que passam na TV. Mas aqui no Brasil, ouvir português de Portugal é mais raro. Portanto, há palavras e conjugações verbais que nem todos entendem.

Acreditas no sucesso de Escrava Mãe?

Posso dizer que no outro dia enquanto gravava na Fazenda de Santa Gertrudes, um dos locais onde gravamos, um dos diretores de externa, o Léo, mostrou-me cerca de oito minutos de cenas do primeiro episódio, cenas do navio negreiro, tortura de escravos, o nascimento da escrava Juliana (Gabriela Moreyra) na praia… Chegou ao fim e eu estava completamente emocionado. É de facto espetacular, as imagens são deslumbrantes, fora de série. Acho que isso responde à questão.

Preparado para te tornares um galã das novelas?

Não penso nisso. Preocupo-me antes em ser um bom ator e bom ser humano.

Gonçalo Diniz, Paulo Rocha e Ricardo Pereira: três atores portugueses que venceram em terras de Vera Cruz. Gostavas de ter o mesmo percurso que eles?

Gostaria muito. Adoraria que surgissem novos convites para integrar outras produções de TV ou cinema. Seria um sonho conquistar uma carreira sem fronteiras entre Portugal e Brasil.

Sentes-te um caso raro da tua geração?

Sinto-me muito grato e ciente de que nada nunca me caiu do céu. Nunca tive «padrinhos» e, portanto, tudo o que conquistei até hoje foi a pulso, com muita dedicação, entrega, paixão, trabalho e investimento em formação e aprendizagem, mas só assim consigo trilhar esta caminhada, por vezes difícil, que é ser ator.

Como é que lidas com os momentos menos bons dessa caminhada?

Esta profissão não é de todo fácil. Tenho trabalhado e investido muito de mim, para conseguir ir dando passos em frente nesta minha caminhada, mas as oportunidades de trabalho não dependem apenas de nós, atores. Para além de outros fatores, a sorte é uma das aliadas principais. Todos nós somos substituíveis. O critério de escolha nem sempre tem a ver com o talento e, portanto, não está nas nossas mãos. Há momentos menos bons e desmotivadores, e o futuro é quase sempre uma incógnita, mas tenho presente uma máxima que o meu pai me conta desde pequeno: «Quando a paixão e a entrega são mesmo verdadeiras, fazem parte da tua essência, com trabalho e dedicação tudo vem. Há sempre alguém justo que está atento». E foi nesses momentos menos positivos que tantas vezes me agarrei a estas palavras para conseguir seguir em frente.

E a verdade é que seguiste em frente. Estás a viver o sonho de muitos atores portugueses.

Penso que é uma grande oportunidade para mim, para dar o meu melhor e provar que estou à altura. Mas sempre com os pés no chão. É como realizar um sonho: o de começar a fazer televisão no Brasil. Depois de tantas novelas em Portugal, este é, sem dúvida, o projeto mais incrível e mais desafiante que fiz até hoje. Não falo apenas por ser fora da minha zona de conforto, que é viver no meu país, rodeado pelo público que conheço e que já gosta de mim. Falo também pelo projeto e pelo personagem, que é muito complexo. Falo pela mega produção na qual esta novela está envolvida e por ser um projeto inserido na obra de uma das mais aclamadas novelas brasileiras, A Escrava Isaura.

Terminadas as gravações d’O Beijo do Escorpião, a TVI prometeu-te um novo personagem na novela Santa Bárbara, um pedófilo.

Seria mais um personagem de composição, aliciante, polémico, que certamente me iria dar bastante gozo em compor e desenvolver.

Além disso, a imprensa especulou uma possível continuação d’O Beijo do Escorpião. Foste informado sobre isto?

Não fui informado acerca de que iria haver O Beijo do Escorpião 2, portanto não posso opinar.

Na entrevista que te fiz em 2014, disseste que o Paulo Furtado prometia mudar mentalidades. Passado um ano, achas que a missão foi cumprida?

O Beijo do Escorpião foi uma novela incrível, um projeto arrojado e arriscado que se tornou líder de audiência. O meu personagem era bastante polémico e os autores, desde o início, disseram que não tinham a pretensão de chocar ninguém. Porém, também não pretendiam enganar o público. Ele acabou por se tornar num dos papéis mais queridos da novela pelo tema que abordava. A história abriu cabeças e fez entender que o amor não escolhe sexo nem idade e que a homossexualidade não é uma doença ou defeito. Mostrou as coisas como elas são e como sempre deveriam ser retratadas para quem assiste, sem subterfúgios. Aqui no Brasil, inclusive, várias pessoas já me abordaram na rua por terem assistido fielmente à história do Paulo e do Miguel pela internet. É muito gratificante perceber que este trabalho foi além fronteiras.

Qual é a imagem que os brasileiros têm das novelas portuguesas?

Infelizmente, o acesso à TV portuguesa e consequentemente às novelas portuguesas é muito reduzido, portanto o público daqui não tem grande conhecimento do que são as novelas portuguesas, mas são sem dúvida apaixonados pelo sotaque português e por Portugal.

O que é que diferencia as novelas portuguesas das brasileiras?

Nós, portugueses, somos muito bons a fazer ficção; temos excelentes diretores de projeto, excelentes atores, autores e equipas técnicas e com pouco fazemos muito. No Brasil, com as mesmas premissas, levam vários anos de avanço na arte de fazer ficção e têm 20 vezes mais orçamento para fazer uma mesma novela. Essas são as principais diferenças. Mas devo dizer que não ficamos, de todo, atrás!

O Brasil é realmente o rei das novelas?

Sim, é. Não o posso negar. Aqui a novela é quase um elemento cultural. Todas as lanchonetes, cafés, restaurantes, chegada a hora da novela, lá têm as suas televisões ligadas. E estamos a falar de um país como o Brasil, com milhões de habitantes. E percebe-se isso pela intensa preparação que se tem para iniciar o projeto, seja em ensaios, aulas de história, aulas de equitação, esgrima, capoeira… (no caso específico desta novela); e em toda a infra-estrutura que sustenta esta mega produção, desde os cenários, luz, objetos de época de cena, adereços, figurinos, etc. Em tom de curiosidade os figurinos são feitos pela mesma equipa que costumiza os figurinos da série Game of Thrones.

Quanto ao teu futuro, a partir de agora é tentar ir ainda mais longe?

Prefiro não fazer planos e continuar a trabalhar e a dedicar-me e esperar que a vida me continue a surpreender de forma ainda mais positiva do que fez até agora.

Qual seria o regresso ideal a Portugal?

Gosto de desafios, de grandes desafios…

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