fbpx

A Entrevista – Paula Marcelo: «Não posso ter saudades de trabalhar com o Camilo»

A Televisão
10 min leitura

Foi nas séries de Camilo de Oliveira e no programa de humor Os Malucos do Riso que Paula Marcelo ganhou maior notoriedade junto do público. Embora tenha ficado colada às «loiras», a atriz relembra os tempos na SIC com muito carinho e afirma não se sentir esquecida. Em entrevista ao A Televisão, confessa que o projeto mais marcante da sua carreira foi Camilo, o Pendura, em 2002, mas diz que agora é altura de contracenar com novos rostos. «É muito complicado viver e trabalhar com a mesma pessoa. Também quero trabalhar com outras pessoas!»

Há algum tempo que não a vemos em televisão, pelo menos de forma regular. Qual o motivo?

Falta de convites…

Em que projetos está envolvida atualmente?

A Sala de Espera, que vai estrear em fevereiro, com o Filipe Salgueiro. É no Teatro Malaposta. Depois estrearei uma peça encenada pelo Celso Cleto.

E os ensaios estão a correr bem?

Sim, muito bem… em força!

Mas gostava que o mercado a deixasse trabalhar em permanência em televisão?

Claro que sim, até porque em termos de horários seria mais fácil. Não é que não goste de fazer teatro, mas a televisão ocupa-nos um espaço num horário mais fixo, que o teatro não tem. Os ensaios [no teatro] ficam um bocadinho conforme a disponibilidade de cada um.

Sente-se esquecida na área da televisão?

Não me sinto esquecida, de todo. O público lembra-se perfeitamente dos meus trabalhos e estão constantemente a perguntar-me quando é que me voltam a ver. Portanto, eu esquecida por parte do público não estou. Na parte dos responsáveis, de quem escolhe os atores, é que possivelmente se têm esquecido.

Qual seria o regresso ideal às lides televisivas?

Eu sou atriz… Portanto, qualquer coisa. Tenho que fazer o meu trabalho. É-me indiferente se é uma série ou uma novela.

Não tem nenhuma preferência por um genéro?

Não. A minha preferência é não estar parada.

O último trabalho que fez enquanto atriz foi a série da RTP1 Água de Mar, em 2014. Que balanço faz do projeto?

Gostei bastante! As pessoas que me viram também gostaram, ficaram felizes e pensaram que seria o meu regresso. O balanço é bom, sim.

No entanto, a série não teve audiências brilhantes. O que é que acha que poderá ter falhado?

Talvez a publicidade.

Gostou de trabalhar com o elenco?

Gostei imenso. Gostei da Mariana Monteiro, do Jorge Corrula, gostei das miúdinhas que contracenaram comigo. O ambiente era muito porreiro.

Dá-se bem com as novas gerações que chegam ao pequeno ecrã?

Claro que sim. É sempre uma mais-valia.

O público lembra-se muito da Paula Marcelo dos tempos d’Os Malucos do Riso. Que impacto é que este programa de humor teve na sua vida?

Foi um programa que nos deu muito gozo fazer, até pelas diversas personagens, embora eu tenha ficado muito colada às loiras. Mas havia mais personagens que nos davam muito gozo fazer. Não era um trabalho rotineiro. Todos os dias era uma coisa diferente.

E ainda é muito abordada na rua sobre os Malucos do Riso?

Sim [risos]. Dizem que o programa faz falta: «Ah, faz falta programas que nos façam rir». O público tem muito essa abordagem, precisam de coisas para rir.

Já agora, acha que a televisão portuguesa carece de humor?

Eu acho que sim. E nas alturas de crise a malta precisa é de rir, não é? Cultura é cultura, e seja ela numa componente mais séria, seja ela numa componente mais cómica, acho que os portugueses gostam muito dos atores. Estão é um bocadinho baralhados e depois acabam por consumir coisas que se calhar nem gostam, mas acabam por consumir porque não têm mais nada. Acho que devia haver um estudo na própria televisão, nos canais em geral; sondarem o público sobre aquilo que querem ver, quem é que querem ver, e como é que querem ver.

Gostava que o formato regressasse à televisão, com novos moldes, adaptado aos tempos modernos?

Não sei se gostaria… Até já fizeram os Batanetes depois disso, uma coisa muito semelhante. Eu acho que se deve inovar um bocadinho. Deve-se sempre procurar coisas novas. Os Malucos tiveram o seu tempo. É assim, cada vez que repõem tem sempre audiências, não é? Mas não sei se seria naquele molde exato, mas uma coisa semelhante… talvez.

Alguns dos seus colegas dos Malucos do Riso estão afastados da televisão há algum tempo. Se pudesse, contratava-os para um novo projeto?

Claro que sim. Em equipa vencedora não se mexe! Felizmente, e que eu tenha conhecimento, estão quase todos a trabalhar. Há um ou outro que não está, mas pronto. Vão fazendo teatro, vão fazendo umas participações aqui e ali. Penso que estão todos ainda no ativo.

Em que altura a representação surgiu na sua vida?

Com os meus quinze anos, quando comecei a fazer teatro amador. Porque gostava muito de teatro, porque gostava muito do palco. E depois, mais profissionalmente, aos 16. A partir daí não parei.

Séries como Camilo em Sarilhos; Camilo, o Pendura e A Loja do Camilo foram um marco muito importante na sua carreira. Que recordações guarda destes tempos?

O que mais me marcou foi Camilo, o Pendura, uma vez que eu também era a protagonista. Eu, o Heitor e o Camilo éramos os mais massacrados [risos]. Gostei muito, porque era um trabalho contínuo, não era um trabalho com interregnos. Foram todos muitos bons trabalhos. Adorei trabalhar com o Jorge Marecos, porque de facto era um realizador com muito cuidado. Guardo boas recordações, como é óbvio.

Saudades de trabalhar com o seu companheiro de vida, que é Camilo de Oliveira?

Eu não posso ter saudades de trabalhar com o Camilo em televisão, porque continuo a trabalhar com ele aqui em casa [risos].

Já não vai ser mesmo possível um regresso de Camilo à televisão? Nem uma pequena participação num projeto?

Seria uma pergunta para fazer a ele. Mas não, não terei saudades de voltar a trabalhar com ele, até porque durante um período eu resolvi não trabalhar com ele. É muito complicado viver e trabalhar com a mesma pessoa. São 24 sobre 24 horas. E também porque quero trabalhar com outras pessoas. Tudo o que eu aprendi foi com ele (isso não está em questão) e agora quero utilizar esses meus conhecimentos com outras pessoas, e aprender também com outras pessoas. Nesta profissão estamos sempre a aprender, constantemente.

Sente muitas diferenças na televisão de há 20 anos para a televisão que é feita hoje? Para pior ou melhor?

Não posso dizer que será para melhor. É melhor por um lado e pior por outro. Antigamente teríamos muito mais cuidado e as coisas eram feitas com muito mais tempo. Hoje as coisas são muito à fábrica: está feito, está feito e não há hipótese. Se sentirmos que as coisas não estão muito bem, desde que o realizador diga que está bem, temos que confiar no realizador, mas isso dá-nos uma insegurança maior. Os atores nunca estão seguros daquilo que fazem. Pelo menos eu nunca estou segura daquilo que faço, quero sempre fazer melhor. E às vezes não há a possibilidade de voltar a repetir. Fica como está e está feito. Temos que confiar, esteja bem ou mal.

Se pudesse, o que mudava na televisão portuguesa?

Não sei, mas seguramente incluiria mais ficção portuguesa, mais programas portugueses, sem dúvida. Somos bombardeados constantemente por coisas que vêm do estrangeiro. E nós temos cá bons atores, bons realizadores, boas produtoras que poderiam fazer coisas muito boas. Mas pronto, eu percebo que o orçamento às vezes sai mais barato ao importar uma coisa feita do que estar a fazer de novo.

Quais são os seus desejos para 2016?

Paz. É o clichê, não é? Mas paz, essencialmente. Amor! E que rapidamente este país se endireite – para o bem psicológico dos portugueses, porque acho que andamos todos à deriva com a incerteza que este país nos dá. Esperanças não nos dá nenhumas. Todos os dias ouvimos alguém dizer que teve que emigrar, todos os dias ouvimos pessoas dizerem que ficaram desempregadas. Parece que não, mas desmotiva – não só as pessoas que passam por isso, mas também aquelas que estão à volta e vão ouvindo, e vão tendo alguns receios.

Siga-me:
Redactor.