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A Entrevista – Filipa Areosa e José Mata

David Soldado
8 min leitura

Depois de Terapia, é a vez de outra série chegar à antena da RTP. Aqui Tão Longe estreia na próxima terça-feira, dia 29, e vai suceder a Bem-Vindos a Beirais no horário. Estivemos à conversa com Filipa Areosa e José Mata, dois dos protagonistas, e as expectativas estão elevadas, até porque, confidenciou um deles, a série esbarra com «a realidade» e é algo «completamente diferente daquilo que eu já tinha feito até hoje». 

Aqui Tão Longe marca o vosso regresso à ficção nacional. Como definem as vossas personagens?  

Filipa Areosa: A Cristina é uma lutadora. Acho que é uma eterna insatisfeita, e não sabendo, é uma mulher de família.

José Mata: O João ganha muito por ser um miúdo que vive com a avó porque os pais morreram. Ele é um mecânico que lê muito, uma pessoa muito inteligente, que gosta muito da avó, que tem uma relação com a Cristina (personagem de Filipa Areosa) desde há uns anos. É uma pessoa combativa, forte, inteligente e vai entrar por uns caminhos difíceis. A partir daí vão acontecer umas coisas inesperadas e vamos ficar sem perceber bem de que lado é que o João está.

Há mais diferenças ou semelhanças entre estas e vocês? 

FA: Nós temos sempre semelhanças com a nossa personagem, senão não fazíamos aquilo que fazemos, mas sim, o facto de sermos da mesma geração e vivermos na mesma geração. Esta história toda que se fala muito da geração millenium, a maneira como nós estamos com as pessoas, nós estamos, mas estamos sempre noutro lado.

JM: Eu vejo mais diferenças infelizmente. Ele é mais duro, mais rijo, é mais homem. Eu sou mais menino (risos). Ele é mais do ter que saber lidar com muitas coisas. Desde cedo que teve de começar a trabalhar, portanto teve se calhar uma infância mais complicada que a minha e isso marca muito. Claro que conseguimos sempre encontrar algumas semelhanças, mas eu vejo mais diferenças felizmente.

José, para ti é mais desafiante interpretar uma personagem que contrasta com a tua personalidade?  

Sim! O que gostamos mais é quando sentimos algum distanciamento e características muito diferentes daquelas que nós temos. Aí dá mais pica. É diferente porque aí podemos trabalhar outras coisas e aspetos que não temos. Ao fim ao cabo acaba por ser isso a construção da personagem que é darmos aquilo que temos e procurarmos aquilo que não temos e que temos de ter quando ouvimos o “ação!”.

Qual foi o vosso maior desafio a gravar esta série?

FA: Esta série foi muito enriquecedora para mim, nem que seja pelos assuntos abordados e pelas pessoas que eu trabalhei. São uns excelentes profissionais e com os quais eu ainda não tinha trabalhado, nomeadamente o Jorge Cardoso e a Natália Luísa que para mim foram muito importantes.

JM: Para mim uma das características desta série são as circunstâncias em que as personagens estão. Por exemplo, nós temos um episódio que fala da mentira, outro da solidão, da vingança, por aí fora. Acabamos por tentar perceber em que circunstâncias é que a nossa personagem se inclui e a forma como lida com os outros, ou seja, não são personagens de linha recta e com uma só cara. E a série ganha por aí…

E como foi contracenar um com o outro?

FA: Foi bom (risos). Eu já tinha trabalhado com o Mata…É mais fácil trabalhar entre amigos porque as pessoas entendem-se de maneira diferente. Estamos mais à vontade e há outra disponibilidade.

JM: Foi muito bom. A Filipa já tinha feito de minha irmã. Já nos conhecemos há uns aninhos e eu gosto muito dela. É uma miúda cheia de talento e foi muito fácil contracenar os dois. Quando é assim, as coisas tornam-se fáceis…

Concordas então com a Filipa quando ela diz que é «mais fácil trabalhar entre amigos»?

Sem dúvida. Nós acabamos por ter mais facilidade porque também temos mais confiança. Mas às vezes temos também personagens que não têm assim tanta relação com este ou aquele e também pode ser bom não conhecermos a pessoa. Nós aqui temos de servir a personagem e deixar as relações de amizade um bocadinho de parte.

Aqui Tão Longe estreia no dia 29 [terça-feira], mas as gravações já terminaram. Que balanço é que fazem?

FA: Muito positivo. Eu gostei muito de trabalhar com toda esta equipa, principalmente com a técnica que foi sempre impecável e houve sempre uma grande disponibilidade por parte de toda a gente. E isso é uma coisa muito importante e que ninguém faz: o bom ambiente.

JM: Foi ótimo e maravilhoso. Aqui Tão Longe é uma série completamente diferente daquilo que eu já tinha feito até hoje, a nível de realização, de texto, de tudo! Nós encontramos aqui uma nova linguagem de como fazer uma série. Nós tínhamos décores inteiros e eles (câmaras) seguiam-nos para dentro dos décores. Nós não tínhamos a chamada quarta parede que é a boca de cena que há nas novelas tradicionais.

É com bons olhos que veem este novo caminho da RTP na ficção nacional? A ideia passa agora por apostar numa nova série todos os meses.

FA: Acho que é muito importante este novo caminho. É bom apostar-se numa coisa mais curta e mais concisa e que dê trabalho a mais pessoas e que aborde temas diferentes para as pessoas não se cansarem.

JM: Eu sinto que é preciso haver este espaço para a ficção, ou seja, sinto que estas séries são uma boa aposta de futuro. É para as pessoas terem também outro tipo de conteúdo e dizerem “Ok, eu identifico-me com isto. Isto é diferente”. Não desvalorizando as novelas de forma nenhuma, mas são registos completamente diferentes. São outras realidades e aqui nós conseguimos encontrar isso: histórias diferentes, bem mais cruas, mais reais e com temas bem mais duros.

FA: Fazer uma novela e uma série é muito diferente. Eu gosto de fazer as duas. Enquanto atriz, gostava de ter mais perceção daquilo que fiz e daquilo que estou a fazer e no registo telenovela isso é mais fácil porque temos muitas coisas iguais. Nas séries não tanto, mas também é outro prazer porque não é “a abrir”, mas é com mais intensidade.

Redactor.