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A Entrevista – Alexandre Castro, autor de «Rainha das Flores»

David Soldado
7 min leitura

Escreve novelas há quase dez anos, mas é só em 2016 que vê estreada a sua primeira produção portuguesa como autor principal. Em entrevista ao site A Televisão, Alexandre Castro confessa estar a «encarar com naturalidade» o convite da SIC para escrever a história de Rainha das Flores que, segundo o próprio, foge do cliché das novelas de hoje em dia. 

Rainha das Flores é o seu primeiro projeto como autor principal em Portugal. Surpreendido com este desafio da SIC?

Já faço novelas há quase dez anos. Trabalhei muito tempo com o Rui Vilhena, que para mim é um mestre, e com a Joana Jorge que é uma pessoa incrível e que também está na Globo. Foi um percurso gradual. Tinha vontade de escrever a minha história. Também vou ser sincero, poderia não ser agora, poderia ser daqui a um, dois ou três anos. Havia essa ambição [de escrever uma novela portuguesa a solo], mas não havia uma pressa. É uma aposta de confiança, mas eu estou a encarar tudo com naturalidade.

Como define esta história?

Há duas coisas que fogem um pouco daquilo que é o cliché maioritário das novelas de hoje em dia que é não ser uma história de vingança. Ou seja, a irmã má [Isabel Abreu] que aparece para dar a volta à irmã boa [Sandra Barata Belo] não é por uma vingança. Ela acha genuinamente que está a fazer justiça e de facto houve uma situação desequilibrada no passado. Ela está a ter genuinamente aquilo que merece ter. Por outro lado, aquilo que foge ao cliché natural é o triângulo amoroso. Nós temos dois triângulos amorosos, um da faixa etária dos 35 anos e outro mais jovem, na área dos 18-20 anos. Não há maus, ou seja, não há o mau, não há aquele que vai tentar fazer mal. Naturalmente as relações vão se desenrolando há medida que as coisas vão acontecendo. Mas isso não quer dizer que não façam coisas más ou incorrectas como todos nós fazemos na vida. Neste caso, eu quis partir do princípio que temos três pessoas boas e que amam genuinamente o vértice do triângulo.

Sentiu necessidade de criar uma história da vida real, deixando para trás o tradicional conto de fadas?

Há espaço para tudo. É uma questão de opção. Eu sou uma pessoa pouco fantasiosa, digamos assim [risos], ou seja, gosto de histórias reais. Sou fanático por documentários, mas não quer dizer que não gosto de universos paralelos ou fantásticos. Mas, de facto, para fazer novela sinto-me muito mais com vontade em fazer uma história real e com uma oralidade do dia-a-dia. Há algumas personagens que podem estar mais fora do habitual, mas falam como todos nós falamos.

Sendo ateu, porquê apostar na religião como uma das temáticas de Rainha das Flores?

É um tema muito importante para mim. Eu sou ateu mas fui católico. Tenho um enorme respeito pela religião católica, assim como tenho pelo budismo e por isso é que há uma personagem não budista mas zen na novela. Eu queria, de certa maneira, abordar um pouquinho esse tema. Para mim, a religião está na ordem do dia por tudo o que tem acontecido na Europa.

Estão reunidos os ingredientes certos para o sucesso desta novela?

Eu já estou muito adiantado na escrita, mas, de qualquer maneira, eu estou muito contente com a reação das pessoas. Os atores estão a gostar, o pessoal da realização e da produção também. E isso para mim é meio caminho dado para dar certo.

Em Portugal, regra geral, as estações de televisão encomendam novelas com 300 episódios cada. Como autor, é difícil construir uma história que mesmo longa consiga despertar o interesse do público?

É dificílimo. Estamos a falar dessa situação quando no Brasil estão a fazer o processo inverso, isto é, estão a diminuir um pouco o número de episódios. Neste caso, eu estou a tentar ver isso como um desafio, sinceramente. Há partida é uma loucura. Mas vamos lá ver. Só há duas maneiras de encarar isso: ou eu faço ou não faço. Ninguém me está a obrigar a fazer. A partir do momento em que eu decido fazer, tenho que tentar arranjar formas de contornar isso. Por exemplo, a concorrência criou agora a situação de fazer temporadas. Sinceramente, não estou a ver isso em Rainha das Flores. Não estou a ver na novela nenhum grande salto temporal que me permita fazer isso.

Ainda assim, a história está em aberto. Tudo pode mudar de acordo com a opinião dos telespectadores. 

Claro! Eu tenho isso em conta.

Quais são as suas expectativas quanto à recetividade do público português?

Eu não gosto de fazer futurologia, mas há uma coisa que eu sei. É uma novela um pouco diferente e isso eu sinto no texto, nas reações das pessoas, etc. Não sei se é pelo facto de ser muito realista em que os vilões não andam encapuçados. Posso estar redondamente enganado, mas eu estou confiante porque acredito muito nesta novela.

Sente a pressão das audiências?

A minha pressão é todos os dias em fazer um bom episódio. Claro que é impossível ficar imune às audiências e não vou ser crápula em dizer que “não ligo”. Claro que quero que Rainha das Flores tenha audiência. Agora, aquilo que me tem de mover não pode ser a audiência, tem de ser o facto de eu ter de escrever um bom episódio. É isso que me move todos os dias.

Tem a ambição de trabalhar na TV Globo?

Não sei se é a minha maior ambição, mas eu tenho ambições. Gostava de ganhar um Óscar, escrever cinema lá para fora. Agora, trabalhar para a Globo? A Globo é a Globo. Não pensar ir para a Globo é um pouco estranho [risos].

Redactor.