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‘Vila Faia’ pouco moderna

Pedro Vendeira
3 min leitura

Em 2008 prometeu-se a versão moderna de ‘Vila Faia’. Mas a de 1982 é de uma modernidade única. Adaptar aos novos tempos não é só transformar uma prostituta numa ‘call girl’ e muitos efeitos especiais.

As telenovelas tornaram-se o prato principal das televisões nacionais. Desde que ‘Gabriela’ passou a ocupar o imaginário dos portugueses, e as novelas da Globo se tornaram a sobremesa preferida da hora de jantar nacional, a televisão em Portugal mudou para sempre.

Hoje elas são a cereja no bolo ganhador da TVI, como já o foram na SIC. Mas se hoje a TVI tem uma verdadeira fábrica de telenovelas, a pioneira no género foi a RTP. Há muitos anos, com ‘Vila Faia’. A saga de João Godunha tinha os ingredientes típicos das novelas capazes de fazer juntar a família a olhar para o pequeno ecrã: a fantasia, a paixão, a traição, a ascensão social (é preciso sempre que haja pobres que acabem por ficar ricos, ou pelo menos que o tentem).

Francisco Nicholson, Nicolau Breyner, Vítor Mamede ou Nuno Teixeira fizeram, na altura, uma telenovela moderna, mesmo com a falta de ‘escola’ nacional no género. Ficou no imaginário nacional. O ‘remake’ que a RTP 1 agora exibe pretende ser considerada uma versão ‘moderna’ do que foi a original ‘Vila Faia’. Mas não é mais do que uma versão conservadora face à efectivamente moderna ‘Vila Faia’ de 1982.

Um quarto de século depois, a RTP parece regressar à escola primária das novelas, quando em 1982 já estava a entrar na Faculdade. Uma telenovela não se torna moderna por transformar uma prostituta simples numa ‘call girl’, ou por colocar, quase a pontapé, a ecologia no enredo (os diálogos no primeiro episódio sobre o tema eram simplesmente arrepiantes), ou por utilizar efeitos especiais por tudo e por nada ou, como se não bastasse, por ter uma banda sonora que alguém deve ter escolhido num dia em que estava de mau humor (temas que parecem de ‘heavy metal’ no meio das cenas é feito de propósito para afugentar espectadores).

Quanto aos actores, há alguns muito bons, mas a maioria parece ter caído ali de pára-quedas. Há ainda um outro pormenor, no meio desta desilusão, empurrada (e, se calhar, bem) para as tardes de sábado e domingo: como foi possível investir cinco milhões de euros nesta nova ‘Vila Faia’, quando o serviço público de televisão gasta o que se sabe em, por exemplo, documentários ou reportagens que não fujam a meios diminutos?

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Amante da tecnologia e apaixonado pela caixinha mágica desde miúdo. pedro.vendeira@atelevisao.com