São 13 as novelas policiais de Fernando Pessoa, protagonizadas pelo detective “Quaresma, decifrador”, que estão a ser adaptadas a uma única série. LuÃsa Costa Gomes, que está a adaptar as 13 novelas, já escreveu o episódio-piloto a pedido da RTP1, estação interessada no projecto.
Os produtores da série serão Pandora da Cunha Telles e Alexandre Oliveira. A RTP1 já manifestou interesse no projecto, embora “ainda não haja resposta definida”, estando prevista uma reunião com o canal de televisão pública “nas próximas semanas”, afirmou LuÃsa.
O facto das novelas serem inéditas e estarem inacabadas, levantou logo, à partida, um obstáculo à escritora. “O que temos, portanto, são fragmentos, o que não é propriamente novidade em Pessoa. Umas vezes temos o crime e não temos a solução, outras vezes temos a solução e não temos o crime”, diz LuÃsa ao “Jornal de NotÃcias”. E continua, dizendo que “Se em algumas novelas há pelo menos um núcleo que é reconstituÃvel como narrativa, outras há em que o carácter fragmentário não deixa entrever o texto como ele deveria acabar por ser”. A segunda dificuldade foi que “o enredo da maior parte das novelas que o têm é razoavelmente simples”.
“São novelas – classificou – de uma sociedade pacata, provinciana, cândida e de uma polÃcia primitiva, muito longe da sofisticação actual. Isso não retira qualquer interesse à novela, que segue algumas das regras da ‘detective story’ da Idade de Ouro do policial inglês”, confessa.
“Em termos de adaptação e de argumento, portanto, temos primeiro um défice de enredo (que muitas vezes se reduz ao enigma), depois um défice de acção propriamente dita e por fim uma grande economia de personagens – Quaresma, o Chefe Manuel Guedes, da Investigação Criminal, mais conhecido por ‘Guedes Bruto’, a vÃtima, que não conta muito, porque em princÃpio está morta, e um par de suspeitos – o que, em termos de orçamento, é bom”, diz LuÃsa.
Para LuÃsa Costa Gomes, o grande interesse da série “Quaresma, Decifrador” “é o AbÃlio Fernandes Quaresma propriamente dito”, embora não tenha “nada, à partida, de motivador, nem de simpático”. “É um homem humilde, envelhecido, magro, doente, alcoólico, fumador inveterado, leitor de charadas e enigmas do ‘Almanach de Lembranças’. Vive modestamente na Rua dos Fanqueiros, com uma manta pelos ombros, numa desarrumação de livros e almanaques. Não tem propriamente vida social, excepto quando o Chefe Guedes, o Sancho Pança deste Quixote apagado e cinzento, lhe aparece com o dom de um mistério”, conclui.