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Rodrigo Saraiva confessa: “O palco não me dá de comer”

A Televisão
9 min leitura

O actor estreou-se nos palcos pela mão de Filipe La Féria aos 12 anos e ganhou espaço na televisão em “Médico de Família”, na SIC. Na primeira série de “Morangos com Açúcar”, na TVI, ganhou uma maior visibilidade. Depois, passou pela “Floribella” e agora será um professor no “Prestige International School” da novela “Rebelde Way” da SIC.

Dsc9862Gl1 Rodrigo Saraiva Confessa: &Quot;O Palco Não Me Dá De Comer&Quot;Lê a entrevista, na íntegra, feita pelo “Jornal de Notícias” ao actor :

Em “Morangos com açúcar” encarnava um aluno, agora em “Rebelde way” faz de professor. Como é que se deu essa transição?

Não sei. Embora sinta, de facto, aos ombros esse teste. É evidente que não há nenhum actor que comece com a idade que eu me iniciei na representação – 12 anos – e que não aspire a fazer um papel um bocadinho mais maduro, com outros contornos. Adoro a minha personagem, mais do que ser um adulto, é interessante o facto de ser um professor de filosofia ética e moral. Gosto dessa área.

Fez algum tipo de trabalho de preparação para construir a personagem?

Muito pouco. Os traços caracterizadores desta personagem são de carácter humano e não tanto académico. O Sebastião é mais uma boa pessoa do que propriamente um professor exímio. Aliás, os métodos dele são muito pouco ortodoxos. Ele é estranhíssimo, é um homem diferente, um agitador. Humanamente, ele é hiper preocupado com estes miúdos, sendo um professor fora do comum.

É complicado vestir a pele de uma pessoa mais velha?

Não tenho na minha consciência uma verdadeira noção da idade dele. Sei que é o professor mais novo do corpo docente. Mas preferi não ouvir da boca de ninguém a idade específica. Porém, acaba por pesar um pouco, na medida que não me compro tão bem como gostaria. Ou seja, sou esforçadíssimo, mas, na prática, olho-me ao espelho e não me sinto tão crescido assim que pudesse fazer este papel, apesar de ter muita vontade de que resulte junto do público. Se conseguir que os espectadores acreditem em mim, então o objectivo está conseguido. Mas eu, à partida, continuo a sentir-me um puto de 25 anos, com um ar todo emproado, a tentar passar por crescido.

Como é a interacção com os seus colegas, sendo que muitos na novela são seus alunos e na realidade têm a sua idade?

É estranho. Quando soube que este papel me ia caber a mim, fiz por crescer. Lembro-me que na altura passei por uma fase em que comecei a vestir outro tipo de coisas, comecei a utilizar outro tipo de vernáculo, a ler outras coisas, a ver outro tipo de cinema, para fomentar e impingir a mim próprio esse tipo de crescimento. E portanto, creio que eles respeitam o meu esforço, nunca me descridibilizam em cena, fazem mesmo por manter um certo distanciamento e ainda bem porque assim me ajudam no meu trabalho.

“Morangos com açúcar” é já um sucesso firmado, ” a caminho da sexta temporada. Uma vez que os ingredientes são parecidos, qual a mais valia de “Rebelde way” para que o público adira?

Primeiro, esquecendo todo o mérito deste projecto, constitui uma alternativa. Há sempre a curiosidade comum, por parte de quem há seis anos às 19 horas vê aquele produto, de assistir a uma coisa diferente. Isto sem fomentar qualquer tipo de “guerrinha”. Eles estão a fazer o trabalho deles, e nós estamos a fazer nosso que vai adquirir visibilidade daqui a uns dias. Além disso, a “Rebelde way” tem uma história com contornos distintos. Estamos a falar de ensino privado, com uma rigidez diferente, com professores bem menos acessíveis. À excepção de mim que sou um gajo porreiro, todos os outros são uns bruxos. O formato será parecido, mas tratam-se de grupos de pessoas diferentes, com energias diferentes, com formas de estar e disponibilidades diferentes. Portanto, o produto resulta sempre diferente.

Considera que este tipo de ficção deve ter uma certa abordagem didáctica, tendo em conta o público mais novo a que se dirige?

A pedagogia não violenta ninguém, não faz mal à saúde. Se puder haver um trecho de pedagogia, numa série de entretenimento, que é esse o objectivo principal – entreter -, acho óptimo. Se chega ao público, não sei, mas se chegar, melhor.

Este género de novela pode contribuir para educar, de certa forma?

Acho que sim, sem dúvida. Somos educados por tudo aquilo que vemos e ouvimos. Seria um excesso de humildade e de zelo, partir do pressuposto de que entrando numa determinada hora em casa de alguém, não temos qualquer tipo de interferência. Claro que temos. Se não tivermos não somos abordados. Se as pessoas dizem da boca delas “estou consigo todos os dias”, de alguma forma lá chegamos. Bem, ou mal, não sei, isso transcende-me.

Tendo um curso de teatro, qual é a sua opinião acerca da nova vaga de actores que não têm formação?

Não sou minimamente preconceituoso. Agora, há uma coisa que me desespera que é a falta de empenho, de prumo, de cuidado. Comecei numa altura em que não era fácil iniciarmo-nos nesta carreira. Nessa época, arranhava-se para se aguentar o lugar. Faço parte de um clube que não é o dos plasticamente interessantes. Sou actor, não sou bonito. E hoje os bonitos têm alguma vantagem e se conseguirem à margem da oportunidade deles, serem esforçados, acho óptimo. Se se esconderem atrás do factor beleza, para não trabalhar, estão a mais, na minha opinião.

O talento é inato ou aprende-se?

O talento é inato e creio que se trabalha. Há uma pedrinha que vai sendo limada com esforço e suor. Há alguma coisa do talento que nasce connosco, seguramente.

Que papel é que tem a sorte na carreira de um actor? A sorte também se trabalha?

Não se trabalha, mas há quem diga que se procura. A sorte não tem manual, mas é, de facto, necessária. É um factor importante, embora seja quase invisível. Eu sou um sortudo, um privilegiado.

As gravações de “Rebelde way” ainda se vão prolongar, mas em termos futuros quais são as suas perspectivas de trabalho?

O que houver. Sou português, logo estou num país que não tem a maior taxa de oferta do mundo. Enfim, às vezes temos que ficar quietos à espera ou fazer coisas que nos agradem menos. É uma realidade que eu aceito desde sempre. Para já, não tenho nenhum projecto, aliás não sei por quanto tempo a minha personagem se vai manter na novela.

Gostava mais de fazer teatro, cinema, de continuar na televisão?

Gostava de fazer tudo isso, pois tudo isso me dá um prazer enorme. Já fiz cinema e tenho saudades. É uma experiência orgásmica. A tela, de alguma forma, torna-nos mais bonitos. E eu não faço assim tanto o culto da imagem, os meus critérios não são esses. Há outro tempo, outro cuidado, outro debruçar sobre os personagens, nada é feito sobre o joelho.

Saudades do palco também?

Muitas. O palco é a minha casa, a minha mãe. Mas palco não me dá de comer. Conto a médio prazo ser calculista que chegue para poder fazer televisão até ter um orçamento simpático, para poder fazer teatro e ter pão à mesma.

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